por Ana Beatriz Rosa, estrategista de conteúdo na Questtonó
O morar sempre teve diversos significados, mas a pandemia de coronavírus acentuou todos eles. Se antes a casa era o espaço físico destinado à vida íntima, muitas vezes pensado apenas para o recolhimento, em 2020 a casa passou a ser a nossa ponte de contato com o mundo.
Os cômodos tradicionais tiveram que abrir espaço para acomodar novas necessidades e demandas. Com isso, passamos a enxergar o imóvel não mais como algo fixo e imutável, mas como um sistema que precisa se adequar às diferentes fases da nossa vida.
É por isso que a casa do futuro aponta para conceitos mais flexíveis de moradia, em que a mobilidade, a tecnologia e os serviços se tornam prioridades.
Os serviços de moradia por assinatura são um exemplo dessa tendência. A possibilidade de se acessar um imóvel adequado para as suas necessidades, sem necessariamente depender do investimento financeiro de comprar um imóvel próprio, se torna uma ideia atrativa principalmente para a geração mais jovem, que já não almeja tanto o sonho da casa própria.
Diferentes de serviços como os aluguéis por temporada, esses imóveis, mais do uma simples moradia, apostam no conceito da economia compartilhada, uma vez que os apartamentos, em sua maioria, são bastante eficientes na disposição de seus espaços.
Outras atividades, como um espaço adequado para receber convidados ou até mesmo alguns serviços, como a lavanderia, passam a ter uso comunitário por todos aqueles que residem no condomínio, em vez de ocupar um espaço restrito dentro de cada um dos apartamentos.
Outra grande aposta é na tecnologia como forma de deixar a moradia mais inteligente. Para além dos gadgets domésticos, cada vez mais atrelados a um sistema único de internet das coisas, acompanhamos o surgimento de startups e negócios paralelos para melhorar a experiência da moradia sob demanda.
Um exemplo é o incentivo à vida em comunidade, com serviços de wellness e esportes para os moradores. Outro exemplo são as comodidades de limpeza e manutenção do imóvel, que também fazem parte do pacote de moradia.
A ideia de oferecer serviços desse tipo, de acordo com Alexandre Frankel, CEO da Housi, é realmente priorizar a liberdade dos moradores. “Há uma parcela da população que não quer ficar presa a um apartamento só para a vida toda, justamente porque a vida é muito dinâmica. A gente passa por várias fases, e a nossa casa precisa acompanhar todas elas”, explica.
Outra tendência indicada pela pandemia, e acentuada pela iminente crise financeira, é a preocupação com o valor do metro quadrado. Apesar de a casa se tornar cada vez mais elemento primordial das vidas privadas e profissionais, pois em muitos casos também se tornou o local de trabalho, os grandes imóveis estão cada vez menos acessíveis para os brasileiro. Por isso, há a necessidade de se pensar a casa em sua multifuncionalidade, e não apenas em cômodos que vão ser deixados ociosos em suas funções.
“O sistema de tocas é cada vez mais atrasado. É aquele sistema em que as pessoas têm ambientes definidos e se isolam ali. Na tiny house, isso não existe. Eu consigo ter acesso a todos os cômodos, e somente o banheiro é realmente separado. A tiny house vem para resgatar algo que vem se perdendo nas moradias modernas, que é a convivência. E diminuir o que a gente chama das “zonas mortas” dentro de uma casa. Ou seja, a tiny house maximiza esse uso dos objetos e dos cômodos”, explica Robson Lunardi, criador do movimento Tiny House no Brasil.
A partir de 2020, a gente sai da era em que os imóveis são anacrônicos e passa para uma era em que vão ser necessários novos modelos de morar, sempre atrelados ao design e a inovação.
* Esse artigo é um resumo da conversa “Como serão as casas do futuro?”, tema do terceiro episódio do #LadoQ, o podcast da Questtonó. Você pode se aprofundar nesse bate-papo ouvindo o programa aqui.
* Para mais informações, acesse o nosso report Futurability: Morar, sobre os impactos da pandemia em nossa relação com as casas.